4 dicas que irão transformar sua forma de escrever (completamente)
Na escola, no cursinho, nos manuais e na internet, aprendemos a construir uma introdução, um desenvolvimento e uma conclusão; a identificar categorias gramaticais, a não separar sujeito de predicado com vírgula, a classificar orações subordinadas. Infelizmente, ninguém nos ensina a escrever um texto que emocione, que mude nossa perspectiva sobre determinado assunto, que mereça uma verdadeira curtida em nossas redes sociais. As quatro dicas que, a partir de agora, serão tratadas como as quatro qualidades discursivas irão nos ensinar a produzir conteúdo mais significativo, que surpreenda nossos parceiros amorosos com um “whats”, que convença nossos clientes que nossa empresa tem algo realmente valioso a oferecer e que deixe o corretor da nossa redação do vestibular de queixo caído.
Não irei tratar aqui de regras gramaticais nem dar nenhuma “receita de bolo” infalível (tais propostas são encontradas facilmente na internet). O que me proponho é trabalhar em uma série de quatro posts com as quatro qualidades discursivas propostas pelo professor Paulo Guedes (UFRGS) e que me foram passadas com tanto talento pela professora Magali Endruweit (UFRGS). Essa forma de trabalhar a escrita já vem sendo utilizada nos cursos de Letras, Jornalismo e Publicidade da UFRGS há muitos anos e irá transformar completamente sua forma de escrever.
Dica 1 - OBJETIVIDADE
Para muita gente, escrever um texto objetivo é escrever um texto claro, "sem rodeios". Não é desta forma que encararemos a objetividade aqui. Tomaremos sua forma em strictu sensu. Objetividade vem da palavra latina objectum, que significa “ter algo diante de si”. Esta palavra tem por oposição outra, subjectum: ter algo dentro de si. Dessa forma, quando narramos, dissertamos ou descrevemos é importante que nosso leitor tenha diante de si todos os elementos para compor uma história. Isso parece óbvio, porém não nos damos conta de que, na maioria das vezes, dizemos sem dizer (com a crença de que tudo foi dito).
Parece um pouco confuso? Então vamos tomar como exemplo um texto de apresentação pessoal. Quando temos que produzir esse tipo de texto (muito comum na descrição de perfis sociais), costumamos dizer coisas como: Me chamo Fulano, tenho 22 anos, sou uma pessoa dedicada, estudiosa, que gosta de se divertir com amigos (e mais uma infinidade de elementos listados). Digo que sou dedicado por uma série de elementos que conheço do meu ser e que me permitem concluir minha dedicação. Meu leitor, no entanto, só conseguirá ver esses elementos e concluir se eu sou mesmo dedicado se eu me propor a mostrá-los. Caso contrário, está tudo dentro de minha subjetividade e, por isso, invisível ao leitor.
A objetividade não precisa se limitar ao texto escrito. Ela pode nos ser muito útil, por exemplo, se tivéssemos que construir um texto de apresentação pessoal instantaneamente em uma entrevista de emprego. Ao invés de afirmar a nosso entrevistador que "sou dedicado" e esperar que ele acredite nisso, poderia dizer que "sou o tipo de funcionário que costuma chegar sempre 15 minutos antes do horário para, calmamente, organizar as tarefas do dia e já iniciar o horário com a máxima produtividade, ...". Nesse caso, talvez ele próprio concluísse “minha dedicação”. Ou seja, preciso trazer à tona todos os elementos necessários para que o leitor possa ter a oportunidade real de fazer um julgamento e comprar (ou não) o nosso texto (discurso).
Para fazer um exercício de autoconhecimento como o é fazer um texto de apresentação pessoal, precisamos nos tratar como se fôssemos um de nossos personagens. Para isso, precisamos "nos olhar de fora" – que é a forma com o que os outros nos olham. Se não fizermos isso, é muito provável que falte objetividade em nosso texto. Posso me sentir carinhoso e afirmar que sou um ser amoroso, no entanto o que é ser amoroso para mim pode ser muito diferente para o leitor. Há pessoas que se julgam amorosas por estarem sempre abraçando a pessoa amada; outras porque dizem “eu te amo” aos quatro ventos; outras, simplesmente, não dizem nem abraçam, mas cuidam.
Em textos dissertativos, também é comum percebermos a falta de objetividade. É difícil comprarmos um argumento como “as drogas fazem mal”, em um texto sobre a legalização da maconha, se o autor não nos responder “fazem mal como?”. Temos esta falsa sensação de que algumas coisas não precisam ser provadas, afinal, “todos sabem que as drogas fazem mal”. Em primeiro lugar, se todos sabem, nem precisaríamos dizer. Segundo, quando nos dispomos a ler um texto, queremos aprender algo com ele; no entanto, se esse algo só estiver dentro da cabeça de quem escreve, nunca o saberemos. É como, domingo à noite, dizer em nosso facebook “findi maravilhoso” e esperar que todos curtam. As pessoas não nos acompanharam no sábado e no domingo e vivenciaram todos estes momentos que estão dentro de nós e que julgamos maravilhosos. Se os contarmos verdadeiramente, talvez nossos leitores possam dizer: “sim, me parece maravilhoso” ou “isso para ti é maravilhoso?”.
Para aplicar de forma efetiva em nossos textos a objetividade, precisamos conhecer uma outra qualidade discursiva que trabalha fortemente para a construção da objetividade. Para conhecê-la, LEIA A PARTE 2.
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